A cultura do Feedback
Por Rodrigo Malfitani
Gestão de pessoas: desafio comum de 100 entre 100 gerentes de Bares e Restaurantes. Seja um fast-food ou um luxuoso Restaurante. Dor de todo e qualquer profissional da área, a formação (ou má formação) de times, passa pela escassez cada vez maior de mão de obra. Pelo desinteresse dos jovens em trabalhar num segmento ainda muito carente de profissionalização, que exige sacrifícios, trabalhar em horários longos, finais de semana e feriados, com baixos salários. Da falta de perspectivas e, principalmente, de uma gestão clara e transparente de construção de carreiras.
Não há quem seja gerente, esteja como ou tenha sido, que não tenha sofrido com esse desafio ou tido calafrios no estômago ao olhar para o salão ou cozinha e se deparar uma equipe mal treinada ou batendo cabeça. Pode ser desesperador!
O setor de Bares, Restaurantes e Hotéis é altamente dependente de pessoas, por mais tecnológico que alguns negócios tenham se tornado pós pandemia. Há uma quantidade enorme de gente por trás das cortinas fazendo esse grande teatro acontecer.
Haaaaja coração! É preciso estar com as consultas do cardiologista em dia para não falecer enfartado com os sustos dos repentinos pedidos de demissão. Justamente daquele garçom que você tanto gostava e despontava na equipe. Ou daquele maitre que, “de repente”, resolveu sair. Ou do chef de cozinha que vai realizar seu sonho de ter um restaurante de cozinha autoral, mas você nunca soube disso.
Fato: ninguém desiste de nada, do nada. Ninguém acorda depois de uma noite bem dormida e resolve pedir demissão como quem vai pedir um pingado na padaria da esquina. Situações ruins são construídas aos poucos. Grande parte delas, pela falta de um feedback honesto, pela falta do interesse genuíno nas vontades, desejos e anseios das pessoas. Pela falta de alinhamento, orientação e direcionamento.
Vi muitos gerentes e chefs serem surpreendidos com a perda de ótimos funcionários de suas equipes, justamente por sua falta de tempo para se conectar com as pessoas. Por não perceberem a importância de dedicarem-se ao bem estar das pessoas do time. Em tornar o ambiente de trabalho prazeroso, mas responsável. Desafiador, mas seguro. Alegre, mas disciplinado.
Feedback deve ser dado com frequência. Feedback não é crítica. Nem conversa de corredor. É orientação. É dar o caminho e a direção. Os que optam por não fazê-lo, provavelmente terão a relação desgastada até que ela exploda.
A falta de direção, leva à falta de perspectivas, à desmotivação e a perda de interesse. Funções são cumpridas de forma randômica num ciclo vicioso de mau trabalho, críticas, piora do desempenho, mais críticas, clima ruim e, logo após, o rompimento definitivo da relação.
Tudo isso normalmente acalentando por uma situação de profundo desgosto e perda de tempo, à espera da sonhada multa rescisória. Quantos abrem mão da sua própria felicidade, desenvolvimento profissional e novas perspectivas, aguardando a demissão por meses? Em alguns casos a espera pode levar anos. Vivem amargurados se auto sabotando enquanto o tempo passa muito rápido. Alooooo pessoal! Não façam isso! Sua alegria, motivação, conhecimento e carreira são seus maiores ativos. Façam bom uso e não abram mão disso. O resto é passageiro.
Orientar e formar pessoas é mandatório num cenário de mão de obra escassa. Construir uma estrutura de treinamento ativa que se transforme num processo perene, é questão de sobrevivência. Quem não treina não faz sucessão. E quem não faz sucessão, morre!
Por isso, estar próximo e conhecer o que cada membro da equipe deseja ou sonha é importante. Em meu último artigo, discorro sobre honestidade e transparência. De como esses comportamentos são importantes para construir relações verdadeiras.
É daí que nascem os feedbacks bem dados e objetivos. Em que erros são corrigidos ao invés de punidos. Só com relações verdadeiras é possível dar feedbacks honestos e transparentes, sem que a outra parte se sinta melindrada ou ressentida. Quem lidera precisa estar próximo de verdade ao seu time para ajudar a pavimentar novos caminhos. Todo e qualquer ser humano tem vontades próprias. Cada ser que habita esse planeta é único. Estar se conecta, conhece. E não toma sustos!
Para quem lidera, o processo sempre deve ser de trabalhar para o time. Nunca fazer o time trabalhar para você. Se trabalhar para o time, o time trabalhará por você.
Olhar apenas para o passado e apontar os problemas ou conquistas, não contribui para a construção do caminho a ser traçado. É preciso olhar para frente. Tentar sempre encaixar as habilidades e competências de cada um, de acordo com os valores, cultura e oportunidades dentro da empresa.
Não é possível mais separar vida pessoal e profissional. Somos um só e não atores em jornadas distintas. Que pai ou mãe não se preocupa com a saúde de seus filhos enquanto trabalha? Ou então, qual profissional consegue ficar plenamente em paz em casa com demandas importantes não finalizadas do trabalho? Impossível se desligar com um simples apertar de botão ON e OFF.
Líderes e gestores de pessoas precisam estar conectados às suas equipes, entendendo e conhecendo cada membro se possível. Descobrir de onde vieram, como chegaram até aqui e para onde pretendem ir. Só assim é possível construir um ambiente de trabalho em que todos estejam satisfeitos.
Cada história tem um caminho diferente. Cada caminho foi moldado com velocidades e paradas diferentes. Somos o que somos com base nas experiências que vivemos. Não dá para colocar todo mundo numa mesma caixa e simplesmente ordenar: “aqui só fazemos assim, gostem ou não”. Isso é tão arcaico quanto a queda da Bastilha.
A formação de um time de alto desempenho sempre passa, obrigatoriamente por um bom gestor e um bom líder. Que cuida dos processos e das pessoas. Que entende as experiências individuais e tenta encaixá-las nas oportunidades que surgem. E isso só é possível através de feedbacks, aproximação, conexão e interesse genuíno nas pessoas.
Só assim é possível viver um ciclo virtuoso. Em que o funcionário é impulsionado constantemente a performar cada vez melhor, tendo ainda mais fit cultural. Assim ele cresce, se desenvolve e é promovido. E colhe seus frutos criando uma carreira consistente. Feedback é apenas uma ferramenta. O relacionamento verdadeiro é para sempre!
#VamosJuntos!